sábado, 24 de maio de 2008

Receita de mãe

Receita de Mãe
A gente cresce com a sensação de que mãe não morre...e nem deveria morrer.Pelo menos mãe que é mãe mesmo...mãe que têm o compromisso verdadeiro de dar amor, mãe que têm a responsabilidade de bem educar.
Mãe que é mãe mesmo a gente reconhece de longe, de perto, de mais perto ainda, de dentro.
Essas ensinam o que é sagrado na condução de suas próprias vidas, como exemplo para a vida dos seus filhos; e assim, tornam-se elas mesmas, sagradas.
Transmitem tudo o que sabem sobre confiança,ética, respeito, solidariedade, critérios, escolhas, atitudes...compreensão da vida.
São mães que não nascem prontas, mas se afirmam na plenitude do tempo.
Gostam em geral da vida e provocam em seus filhos a vontade de viver suas descobertas nela, com apuro, originalidade e sensibilidade.
São elas, essas mães, que não abrem mão –em hipótese alguma- de proteger seus filhos, mas abrem mão de sentimentos egoístas para vê-los desbravar com coragem seus lugares no mundo.
São tão valiosas , verdadeiros tesouros humanos que escrevem e inscrevem suas histórias preciosas em cada gesto do cotidiano, gratuitamente, sem nem se darem conta, para a gente aprender só de observar...
Recheiam nossos corações de amor e cuidados, para que façamos o mesmo com nossos filhos, nos dando a noção de que antes de nós existiam gerações e, depois de nós, existirão outras tantas.
Sabem muito sobre o tempo, são de seu próprio tempo, atuam no tempo, transformam o tempo. São também de outros tempos. E,olhando bem, são de um tempo único; são para sempre!
Ah...se todos no mundo soubessem o valor destas mães...se elas próprias soubessem o valor que têm...

Karen Acioly

11 de Maio de 2008- Dia das mães

O tempo de transformação

O Tempo de transformação

(tema da terceira noite-Mistura de linguagens)

O tempo está sempre ao nosso favor, e, por causa dele, reconhecemos que passamos uma vida inteira tentando entendê-lo para saber –somente depois- que ele sempre foi e sempre será nosso eterno companheiro.

-O tempo não existe? É abstração?
Ou é aquilo que persiste em morar no nosso coração?

Para se entender o tempo, é preciso ter tempo ...é preciso ver, escutar o tempo, o tempo todo...em todos os tempos...

O tempo trouxe com o tempo, o sagrado, os mitos, as tradições. É preciso consagrar o tempo, respeitar e conhecer as histórias que o tempo criou e nos presenteou...sem pressa...a tempo.

Existe ainda um outro tempo, além do tempo, o tempo do coração.

É um tempo tão só, de cada um, que merece encostar no tempo do outro ou de encontrar o outro a tempo, ao mesmo tempo em sintonia e fusão.

-Qual é o tempo da transformação?
Um segundo? Um minuto? Um mês?
Uma vida?

O tempo tem tempo
O tempo está por toda a parte
O tempo está na juventude
Transformando ,misturando o tempo com arte.

Karen Acioly

(Curadora, roteirista e diretora artística da terceira noite da Mostra Brasil Juventude Transformando com Arte -mistura de Linguagens, 04 de Junho de 2008-Teatro Carlos Gomes)

Escrito em 21 de maio de 2008

O nome dela era Rebeca

O nome dela era Rebeca e estava indócil no trânsito. Pudera. O filho,
aluno do ensino médio de uma escola, dita católica-progressista, acabara de ser sutilmente “retirado” da mesma, por menos de um ponto. Ele e mais 50 outros. Todo ano era a mesma coisa: 50 alunos eram excluídos, em nome do ensino inclusivo. O mote para as “retiradas sutis” era o vestibular. A tal escola ainda se fiava nesta “medição”, para justificar o êxito comercial de seu ensino.
- Isso é que é impunidade! Todo ano expurgam 50! Isso é fracasso escolar da escola e não do meu filho! – esbravejava ela, se dando conta de que o vestibular já estava falido desde seus tempos de menina.
Ainda no trânsito do Humaitá, Rebeca, mãe quarentona, muito bem apessoada, profissional de mão cheia – dona-de-casa, nem tanto... – deixava a invasão bárbara de pensamentos prosseguir. O tempo passava veloz nas ruas e assaltos de Botafogo (e adjacências) e Rebeca ponderava, em voz alta: - Ah! queria ver se fosse com os filhos deles... criar filhos, hoje em dia, não é fácil, não... você sai prá trabalhar e as crianças ficam em casa, muitas vezes, sem ninguém prá olhar. E lá está a maldita televisão passando – em qualquer horário – aquela programaçãozinha de quinta categoria! Depois dizem que a classificação indicativa é a volta da ditadura... tudo nesse país é a volta da ditadura! Ditadura é assistir à indústria milionária da violência e do erotismo precoce... da prostituição infantil, da gravidez aos 11 anos, da venda absurda de armas, da desestruturação familiar, da miséria aumentando nas ruas, do aliciamento de jovens e de crianças para o tráfico... isso sim é ditadura! Esbravejava ela, possessa, aos sete ventos... enquanto o guarda municipal aplicava-lhe uma multa, por dirigir com uma só mão, enquanto ela passava a terceira.
Rebeca não andava bem naqueles dias: o filho mais velho havia sido convidado a se retirar de uma escola progressista, de ensino médio “inclusivo”, por não ter a média necessária para passar no vestibular. A filha caçula, de seis anos, havia assistido – sem querer – à chamada, num dos intervalos da novela das seis, de um filme caliente (que haveria de passar depois das dez). A cena foi reproduzida por ela e por suas amiguinhas – com fidelidade máxima – usando Barbies sobre Kens e Kens sobre Barbies, numa impressionante fileira de casais de bonecos, que gemiam sons grotescos, enquanto se esfregavam. Foi uma imagem de forte impacto para Rebeca – de criação cristã e educação das mais éticas e respeitosas. Foi forte, difícil mesmo...
Rebeca, definitivamente, não estava bem. Não sabia porquê o marido de 50 anos havia se encantado pela jovem, 20 anos mais nova, de piercing no nariz e tatuagem na cintura, que trazia, em sua teia de encantamentos, máximas da nova ética feminina carioca: “1) A fila anda 2) Quem gosta de beleza interior é decorador 3) Tá casado, mas não tá morto. 4) não me importo em ser amante...”
Não dava ainda para entender porquê, ao invés de se construírem escolas, se construíam presídios. “Assassinos de infâncias!” Gritava ela – a essa altura completamente descontrolada –, ao lembrar das ricas temáticas das telenovelas, onde habitualmente as filhas detestam as mães que, por sua vez, detestam seus pais que, por sua vez, traem as mães que, por sua vez, envolvem-se em terríveis conspirações e escândalos.
- Será que não existem mais pessoas de boa-fé? Pessoas de paz?
Paz lembrava, também, a menina Gabriela, a tragédia do menino João, entre tantas outras... foi quando Rebeca, ao parar em um sinal fechado, pensou em Chico Buarque. Respirou mais aliviada. Sensação que durou pouco tempo, quando viu, já próximo, o pivete. Sentiu, afiada, a pontada no coração, pela sensação real de impotência, por não poder fazer cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente... – Um dos melhores do mundo! – berrou ela, assustando o pivete. Naquele exato momento, quando tudo parecia conspirar para sua profunda insatisfação, o telefone celular tocou. Como estava no trânsito, ponderou que seria melhor não atender. Como era mulher, ponderou um pouco mais. Atendeu.
- Mãe, nós te amamos! – disse, do outro lado da linha, a voz adorável dos filhos.
Não tardou e veio o complemento:
- Nós te amamos, mas não se atrase de novo, ta?
E então, a fila andou...


Karen Acioly - Revista O GLOBO - 22 de junho de 2007

quinta-feira, 20 de março de 2008

Observações

Aguardem em breve minha primeira observação sobre voces...